31 maio 2010

Bobagens noturnas



Eu confesso, esqueci como se faz...
Portanto não me resta qualquer alternativa se não, minha coleção de canetas pretas guardar numa caixinha de sapato;
a de cadernos empilhar no fundo do armário, atrás das caixas.
Comprar mais livros, para preencher as prateleiras e gavetas vazias.
Nas madrugadas dormir.
A poesia doar à natureza,
o resto ficará num cantinho escuro qualquer, onde couber.
Passar a colecionar palavras, nada mais de confeccioná-las.
Colecionar historias, memorias, e fazer delas abrigo para os dias de muito sol;
e também para o cotidiano infinito, caminho linear interrompido pelo esquecimento.
Fazê-lo, não sei mais.

20 maio 2010

Visita


Não me lembro de ter antes comentado como me admiram as visitas que ele me faz.
Também não tem muito tempo que parei para me questionar do por que dessas visitas. Sem exceções e sem regras, nas primeiras vezes em que ele apareceu, sua chegada era anunciada pelos tons avermelhados das nuvens no horizonte. Era ao vê-las que eu sabia: em breve ele estaria 'aqui'.

Logo da primeira vez que o vi, ele me tomou completamente de surpresa! Carregando sua cesta - sim uma cesta - como de costume, timidamente, ao se aproximar de mim, colocou a mão direita dentro de sua cesta e em seguida estendeu-a para mim - então estática, com os olhos hipnotizados por aquela criatura -. Ele me entregou uma maçã, e partiu.
Demorei uns 15 segundos para processar aquele momento (que durara menos da metade do processamento) e então entrei em casa, com a maçã em mãos.
Mal sabia aquela criatura, eu supus, que maçã era  minha fruta favorita, e aquela maçã... jamais vira uma maça como aquelas antes! Indescritivelmente saborosa, parecia que vinha com meu nome escrito nela.
Logo a devorei, como se estivesse me deliciando com algum tipo de banquete.

Da segunda vez em que ele apareceu, horas antes pensei na possibilidade de reencontrá-lo, mas não quis criar muitas expectativas. Afinal, o que ele traria desta vez?
Flores! Me trouxera flores, acompanhadas de um sorriso. E por seguinte, elas vieram de todas as formas, cores e perfumes.

Já na décima primeira vez, o esperava do lado de fora da casa. Eu sabia: ele viria!; e não diferente de nosso primeiro encontro, me traria algo surpreendente.
Em seu modo único de cartesianismo, chegou pontual. Mas as nuvens não eram mais avermelhadas. O frio do Outono as pintou de cinza, poetizando ainda mais àqueles encontros.
Quase confundido com o completo breu, chegou sorrateiro. E pegando em minhas mãos congeladas, ao me encarar, pôs fogo em meus olhos. Ele havia me trazido o silêncio. E foi só então que compreendi a sua importância.

17 maio 2010

A Janela




Olá, estranho
Como vai?
Há algum tempo não o via,
senti sua falta.

Na sua ausência,
o tempo me pareceu mais demorado.
A falta daquela luz que me trazia,
me fez escuridão.

Passei a analisar mais o céu,
a coloração nova que ganhavam as nuvens
a cada noite.

Até as araucárias,
por mim tão menosprezadas,
começaram a se mostrar.

Em momentos
cheguei a me sentir submersa
em uma floresta escura e sombria.

E quando havia neblina
me transportava para um outro tempo qualquer
Pensando que lá, talvez, o encontraria.

Mas continuei vagando noite adentro
a espera de qualquer coisa
que preenchesse meus pensamentos.

04 maio 2010

Aujourd´hui

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Se segunda me preenchera com um pouco do seu nada, onde eu poderia ser tudo e isso não significaria coisa alguma, o dia seguinte me pegou de supetão e me arrancou um sorriso de canto de boca.

Eis que chegara mais uma terça-feira. Impiedosa terça-feira que com seu bom humor tem o costume de virar o meu do avesso, de tornar meus afazeres em tarefas árduas. Mas hoje, nada seria igual, nem mesmo a rotina.

Tudo permanecia em seu lugar. A bagunça, os livros, a máquina de café, as fotos, a cama. Mas por alguma razão o sol não era o mesmo de ontem, nem as pessoas, nem as ruas, nem eu.
Ninguém naquele instante poderia ousar sequer tentar me convencer de que as pessoas poderiam permanecer imutáveis à uma simples mudança de...quê? Não seria eu quem poderia responder a essa pergunta. Tampouco importava qual seria sua resposta ou seu significado, ou ainda se havia qualquer significado que pudesse ser compatível ou pertinente. Pois, naquele momento, algo dentro de mim florescia e brilhava, e fazia com que meus olhos refletissem esta sensação em tudo.  Que momento mágico!
E eu o vivia e o saboreava incessantemente por me dar conta de que aquilo poderia durar apenas 1 segundo mais, e eu não poderia perder 1 segundo sequer daquela sensão inexplicável que era qualquer coisa parecida com a mistura de desejo, satisfação, liberdade e calafrio.

E eu sabia que, como todas as demais coisas, aquele momento teria fim. Não tinha a ilusão ou intenção de vivê-lo mais do que ele durasse. Pois de mim ele jamais se perderia.
Eis que ele teve seu fim. Brilhante. Entrou-se em um choque com a realidade que ao contrário dele, jamais chega de surpresa.
Mas este era apenas um mero detalhe, diante daquilo que eu acabara de vivenciar.
E, como quem sabe agradecer, calei-me, para que ele de mim também não se perdesse jamais.