29 março 2010

"Muito prazer, solidão".

"O grito -Skrik-" - Edvard Munch


Ana encontrava-se embriagada em solidão. Seu irmão partira naquela mesma noite, deixando a casa praticamente invisível na escuridão onde apenas a luz da cozinha permanecia acesa.
Debruçada na mesa de refeições, com ar desolador, ouviu um barulho vindo da porta de entrada: "mas é claro! - exclamou- Como fui me esquecer da melhor companheira noturna que se poderia pedir". Andou depressa até a porta girou a chave na fechadura e, para sua surpresa não encontrou o que estava certa de que iria achar. Suspirou forte, olhou para o céu e disse: "Nem você, querida amiga. Ah, nem mesmo a lua poderá me fazer companhia nesta noite cinzenta".
Resolveu, antes de entrar ascender um cigarro. Mas com o coração palpitante de angústia no peito, que anunciava um infarto mental certo, o apagou e entrou em casa novamente sentindo-se ainda mais sozinha.
Aquele sentimento lhe parecia algo que experimentava pela primeira vez. Era difícil dizer se em seu peito havia um cano entupido ou um enorme buraco. Para ambas as hipóteses havia apenas uma solução: sair dali o mais rápido possível!
Ana olhou para o relógio "21:30, a noite mal começou", mas não sentia vontade de fazer nada. Era como se estivesse acorrentada pelos pés e pelas mãos. "Ora, mas que coisa ridícula! Levante-se - diz para si - saia do ponto morto!". Então se levanta, mas consumida por uma energia estranha, novamente, volta a se sentar e põe-se a chorar, um choro sincero como o de um bebê. Enxuga as lágrimas, se recompõe e então senta-se em frente ao computador, apenas para descobrir que não há nada mais solitário. Coloca para tocar sua última seleção de músicas e, mais uma vez, o choro.
Com sua caixa de pensamentos vazia finalmente entende que mesmo sem buscar por ninguém, alguém sempre o encontrará.
''Muito prazer, solidão".

12 março 2010

Noite

Imagem "Bound for Distant Shores" - http://www.zuzafun.com/surreal-paintings-of-vladimir-kush

Nada poderia ser mais grandioso que a noite
Que em seu  suspiro mais óbvio de escuridão
ilumina cada pedaço íntimo,
ou descarado de mim.

Tão óbvia quanto um desconhecido
Confidencia-se sem regras,
sem limites.

Como boa ouvinte,
me calo
E reflito seus segredos
para que não se desfaçam.

E quando chega ao fim
peço depressa que anoiteça,
para mim.