09 novembro 2007

Os Sapos - abre-alas da Semana de Arte Moderna de 1922 -



"Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:-
"Meu pai foi à guerra!"-
"Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos!

O meu verso é bom
Frumento sem joio
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinqüenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma.

Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas . . ."

Urra o sapo-boi:-
"Meu pai foi rei" - "Foi!"-
"Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!"


Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:-
"A grande arte é como
Lavor de joalheiro.

Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,

Tudo quanto é vário,
Canta no martelo."

Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas:-
"Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".

Longe dessa grita,

Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa;

Lá, fugindo ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é

Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu.
Da beira do rio".

2 comentários:

Ozenildo Santos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

essa porra e um lixo, seja maldito quem iventou.