Não me lembro de ter antes comentado como me admiram as visitas que ele me faz.
Também não tem muito tempo que parei para me questionar do por que dessas visitas. Sem exceções e sem regras, nas primeiras vezes em que ele apareceu, sua chegada era anunciada pelos tons avermelhados das nuvens no horizonte. Era ao vê-las que eu sabia: em breve ele estaria 'aqui'.
Logo da primeira vez que o vi, ele me tomou completamente de surpresa! Carregando sua cesta - sim uma cesta - como de costume, timidamente, ao se aproximar de mim, colocou a mão direita dentro de sua cesta e em seguida estendeu-a para mim - então estática, com os olhos hipnotizados por aquela criatura -. Ele me entregou uma maçã, e partiu.
Demorei uns 15 segundos para processar aquele momento (que durara menos da metade do processamento) e então entrei em casa, com a maçã em mãos.
Mal sabia aquela criatura, eu supus, que maçã era minha fruta favorita, e aquela maçã... jamais vira uma maça como aquelas antes! Indescritivelmente saborosa, parecia que vinha com meu nome escrito nela.
Logo a devorei, como se estivesse me deliciando com algum tipo de banquete.
Da segunda vez em que ele apareceu, horas antes pensei na possibilidade de reencontrá-lo, mas não quis criar muitas expectativas. Afinal, o que ele traria desta vez?
Flores! Me trouxera flores, acompanhadas de um sorriso. E por seguinte, elas vieram de todas as formas, cores e perfumes.
Já na décima primeira vez, o esperava do lado de fora da casa. Eu sabia: ele viria!; e não diferente de nosso primeiro encontro, me traria algo surpreendente.
Em seu modo único de cartesianismo, chegou pontual. Mas as nuvens não eram mais avermelhadas. O frio do Outono as pintou de cinza, poetizando ainda mais àqueles encontros.
Quase confundido com o completo breu, chegou sorrateiro. E pegando em minhas mãos congeladas, ao me encarar, pôs fogo em meus olhos. Ele havia me trazido o silêncio. E foi só então que compreendi a sua importância.